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Projeto é uma iniciativa do Grupo Interdisciplinar de Pesquisa em Energia Solar da Universidade Federal do Piauí

Para inúmeras comunidades residentes do semiárido piauiense, a convivência com a estiagem é uma realidade que bate à porta desde os primeiros dias de vida. Além dos efeitos diretos que o clima seco e quente proporciona para o homem do campo, o difícil acesso a água, tanto para consumo próprio, quanto para às atividades laborais, é uma chaga que de tão conhecida virou inspiração para histórias contadas em livros e músicas.

No Piauí, porém, essa página parece estar sendo virada e abrindo espaço para novos ventos. Novos ventos não, novos fótons. Isso porque, através de um projeto de pesquisa e extensão do departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal do Piauí (UFPI), comunidades sertanejas estão tendo acesso a sistemas de abastecimento alimentados por energia fotovoltaica.

O Canindé Solar é uma iniciativa de bombeamento de água se utilizando de energia captada através dos raios do Sol. A ideia é reunir duas das principais potencialidades do estado: seu lençol freático, rico em água e a radiação solar, uma das maiores do Brasil. O trabalho é coordenado pelo Grupo Interdisciplinar de Pesquisa em Energia Solar (Gipes).

Desta forma, placa solares são implantadas nas comunidades, que vão alimentar bombas responsáveis por distribuir a água de poços de até 15 metros de profundidade (e que não estejam ligados à energia elétrica) para uma caixa d’água, permitindo inclusive o uso durante a noite, uma vez que água está armazenada. Essa água é utilizada tanto para alimentar a produção, quanto para o uso das famílias dessas comunidades.

Na comunidade Flores, no município de Boa Hora, a chegada da água traz alento para os produtores rurais e cria novas perspectivas para as famílias assentadas.

“Agradeço muito a Deus por essa possibilidade. A gente não esperava a chegada de um projeto como esse, que é muito bom para a comunidade. A expectativa é de melhorar e produzir mais, aumentar nossos canteiros”, comemora o senhor Domingos “Lindola”, agricultor da localidade.

Na localidade Barbosa, em José de Freitas, 50 anos separam a luta pelo abastecimento de qualidade de qualidade e a instalação das placas fotovoltaicas que possibilitaram o sonho se tornar realidade. Lá, há possibilidade de produção de até 7.000 litros por dia.

“Nós só temos a agradecer por esse apoio nessa aquisição da placa solar para retirada da água do poço aqui na localidade. Há 50 anos que a gente estava lutando por esse benefício, carregando água na cabeça, e finalmente chegou”, comemoram.

 

Comunidade Barbosa, em José de Freitas, passa a ter acesso a abastecimento após 50 anos (foto: Instagram @canindesolar)O grupo de trabalho é composto por dois professores doutores, Marcos Lira e Albemerc Moraes; um aluno de mestrado e três alunos de iniciação a extensão. Todos ligados ao curso de Engenharia Elétrica da UFPI.

“Tivemos o caso específico de uma comunidade que não tinha poço, mas que dispunha de um córrego em seus limites. Fizemos o mesmo projeto de instalação das placas e a bomba foi colocada dentro deste córrego para bombear a água para o reservatório”, conta o professor Marcos Lira.

O projeto iniciou com 11 sistemas implantados nas cidades de Campo maior, Oeiras, José de Freitas, Santa Rosa do Piauí e Santo Inácio. Em 2019, o Canindé Solar é agraciado com um prêmio da Organização das Nações Unidas, que o reconheceu como um dos seis projetos piauienses com maior grau de inovação.

A premiação rendeu um cheque no valor de R$ 100 mil, que foi aplicado na ampliação do projeto para 10 novas comunidades, em municípios como Paulistana e Currais. Além da instalação das placas, o grupo de profissionais e estudantes do núcleo também realizam a capacitação parcial de jovens das comunidades, para que eles exerçam a limpeza e manutenção primária das placas, como troca de parafusos e fios.

Nestas localidades beneficiadas se destacam a cultura de hortaliças, em especial. Em Oeiras, cidade que recebeu as primeiras instalações do projeto, as famílias também produzem banana e milho.

“O projeto tem características social, econômica e ambiental, porque trata-se de energia limpa. Ele também tem um ganho acadêmico, porque capacitou recursos humanos tanto em graduação quanto em mestrado”, comemora o professor Marcos Lira.

Professor Marcos Lira apresentando as placas responsáveis pela captação dos fótons (foto: Ascom)Inicialmente, o Canindé Solar foi viabilizado através de uma emenda parlamentar, à época destinada pela então senadora Regina Sousa. Desde então, outros parlamentares e prefeituras de outros municípios manifestaram interesse no programa.

É através da Fundação Cultural e de Fomento à Pesquisa, Ensino, Extensão e Inovação (Fadex), que o Gipes capta e gerencia os recursos que tornam a iniciativa possível. Dando celeridade aos processos e transparência nas aplicações.

“Nossa parceria com a Fadex vai nesse sentido de angariarmos os recursos financeiros. Eu diria que, hoje, sem a Fadex o projeto seria inviável. Se fossemos no mercado fazer licitação, via UFPI, os trâmites burocráticos atrasariam e poderiam o projeto no seu nascimento. A Fadex nos dá além de uma segurança na gerencia dos recursos, mais celeridade na compra dos equipamentos”, pontua o professor.  

Projeto é uma iniciativa do Grupo Interdisciplinar de Pesquisa em Energia Solar da Universidade Federal do Piauí