1287 Acessos
Projeto tenta decifrar código genético do protozoário causador da doença

Em tempos em que a ciência se prova a mão amiga que auxilia a sociedade na busca por uma resposta à pandemia do novo coronavírus, iniciativas pioneiras em saúde púbica ganham em peso e importância junto à comunidade. 

Na Universidade Federal do Piauí (UFPI), o Laboratório de Leishmaniose, capitaneado pelo professor e pesquisador Carlos Henrique Nery Costa, desenvolve estudos para o descoberta de um imunizante contra a leishmania visceral, doença popularmente conhecida como calazar e que é a segunda chaga parasitária que mais mata no mundo, ficando atrás apenas da malária. 

O Projeto desenvolvido no Campus Petrônio Portela tem por objetivo decifrar o código genético do protozoário leishmania infanto, causador da doença e, ao mesmo tempo, fazer o registro dos sintomas clínicos que acometem os pacientes.

“Através desse trabalho, nós identificamos os fatores de virulência, que são alterações genéticas que podem levar a manifestação da doença. Por meio de técnicas modernas de engenharia genética, podemos modificar essas alterações em organismos ainda vivos, estratégia semelhante a utilizada para desenvolver as vacinas para tuberculose e catapora”, explica o professor Carlos Henrique. 

Outra possibilidade, ainda dentro da linha de pesquisa desenvolvida na UFPI, é a identificação das proteínas presentes no micro-organismo causador da leishmaniose, para observar quais as alterações a elas associadas estão diretamente ligadas a doença. “É o que nós chamamos de vacina de segunda geração”, pontua o pesquisador.  

Devido aos estudos aplicados na Universidade Federal do Piauí, o estado é hoje o portador da maior coleção desse tipo de organismo do mundo. São mais de 150 coletados e com o código genético inteiramente sequenciado. O levantamento é feito com o apoio do Instituto de Doenças Tropicais Natan Portela.

O trabalho é realizado em colaboração com várias instituições do mundo e atualmente recebe recursos da Universidade de York, no Reino Unido. O aporte é destinado a UFPI e gerenciado pela Fundação Cultural de Fomento à Pesquisa, Ensino, Extensão e Inovação (Fadex).

“Existem vários projetos de pesquisa que nós fazemos com recursos gerenciados pela Fadex, o que para nós, pesquisadores, é uma excelente ideia. Nós temos muita preocupação em manipular erroneamente os recursos, que geralmente são públicos”, conta o coordenador da pesquisa. 

Sobre a Leishmania visceral
O calazar é uma doença que acomete países de regiões tropicais e de baixo nível de estrutura sanitária, como Índia, Etiópia, Sudão e Quênia. No Brasil, a doença se espalhou do Nordeste para as demais regiões, alcançando outros países da América do Sul. 

Além disso, também são registrados casos na região norte da África e em países europeus banhados pelo Mar Mediterrâneo, como França, Espanha, Grécia e Portugal.

A Mortalidade da doença é garantida em casos graves não tratados. Em algumas configurações clínicas, mesmo com o tratamento, 10% a 20% dos pacientes podem vir a óbito.

Os sintomas são febre de longa duração, fraqueza, perda de peso e anemia. A doença é transmitida através da picada do mosquito-palha, que infecta o hospedeiro com o protozoário, afetando seu sistema imunológico. Em humanos, a chaga é comumente transmitida através de cachorros infectados. 

No Brasil, a doença afeta mais de 3.500 pessoas anualmente e para cada humano afetado, a estimativa é que haja 200 cães infectados, segundo o Ministério da Saúde.

Até o momento, não existe nenhuma vacina para seres humanos. Alguns imunizantes são utilizados em animais, mas de alcance ainda limitado.

Projeto tenta decifrar código genético do protozoário causador da doença